Você já se perguntou o que é libido e por que ela tem tanto impacto em nossas escolhas, relações e até na nossa saúde emocional? Na psicanálise, a libido vai muito além do desejo sexual — ela é entendida como a fonte da nossa energia vital, que movimenta nossos desejos, nossa criatividade e até nosso sofrimento. Neste artigo, vamos explorar o conceito de libido segundo Freud, Reich e outros grandes nomes da psicanálise, mostrando como ela se desenvolve desde a infância e influencia profundamente a sua vida adulta. Se você sente bloqueios emocionais, compulsões ou dificuldades nos relacionamentos, entender o caminho da libido pode ser o primeiro passo para transformar sua realidade.

Vejam até que ponto se chega quando as necessidades não são atendidas. O sexo é uma função biológica simples baseada na obtenção de prazer. Este prazer é o ápice. É o maior prazer, principalmente quando se chega a função natural do orgasmo. A fonte dessa busca pelo prazer se chama libido. Libido provém do latim libere, que nos remete a desejo e agrado. Desejo, provém do latim desidare, expectativa, esperar, ansiar por. Neste caso, nós estamos desejosos de agradar e ser agradados. A libido está em todos nós, sendo a fonte de nossa energia vital. Essa energia vital tem impressa em sua natureza a busca por este prazer. Se o auge deste prazer é o orgasmo, por que não buscá-lo então, não é mesmo? 

Ainda sobre a libido, vale ressaltar uma importante definição a respeito. Wilhelm Reich, psicanalista, psiquiatra, entre outras atribuições, trabalhou bastante em cima das perguntas: se a libido é essa energia vital tão potente, como a mapeamos e a encontramos fisicamente? Reich ultrapassou a especificidade da Psicanálise e mapeou corporalmente essa energia. Notou-se que o seu caminho se faz em um processo de tensão, carga, descarga e alívio. Notou também que este processo se repete na natureza. Vejam que nosso cérebro comanda o nosso corpo por meio de pulsos elétricos incrivelmente rápidos que percorrem toda a nossa espinha. Este é o operacional do sistema nervoso. Agora, imagine esse corpo com carga elétrica adicional desenfreada. Apenas percebam o quanto isso pode causar impactos no cérebro, em nossas decisões e em toda a nossa estrutura psíquica. 

Não é necessariamente um problema ter mais carga. Quem dispensaria energia extra? Por que não usá-la para potencializar a sua vida? Bom, quem nos ajuda a responder isso é o incrível Freud, com sua teoria de desenvolvimento psicossexual da libido. O pai da psicanálise estruturou o caminho que essa energia percorre para desenvolver-se. Graças a ele, ficou entendido que a libido e a sexualidade iniciam seu desenvolvimento muito antes do que a sociedade pensava na época (século XX). É necessário atentar-se ao desenvolvimento psicossexual de alguém desde o seu nascimento.

Logo, a nossa pulsação de vida que busca satisfazer nossos desejos está ativa desde o principio. É um sistema que se desenvolve gradualmente junto conosco. Um bebê de 0 a 2 anos, obtém seu prazer diretamente da mãe, ele não pode sobreviver por si só.  É um período onde, segundo a teoria de Donald Winnicott, outro psicanalista famigerado, a mãe deve ser suficientemente boa, atendendo a todos os desejos e necessidades do filho de colo, aconchego e amamentação, principalmente. A obtenção de prazer do bebê se focaliza, portanto, na boca. É fonte de alimento (pulsão de autoconservação) e de afeto e carinho (pulsão sexual). Aqui traçamos uma linha para esclarecer que a pulsão sexual significa obtenção de prazer meramente, além da sobrevivência. No fim das contas, é isso que também motiva uma relação sexual. 

Este é um período onde a mãe deve cumprir o seu papel, já se preparando para o próximo período onde o bebê desenvolverá a sua independência. Este preparo faz-se com a inclusão de novos alimentos para o bebê e desmame gradual, de forma que ele crie a sua independência e chegue até a próxima fase preparado. O símbolo principal da fase oral é a boca. Um desenvolvimento mal realizado nesta fase cria um ponto de fixação nela. Simbolicamente, pessoas podem tornar-se sempre desejosas de mais prazer oral. Beijos, fumos, fala, sexo oral, etc. Simbolicamente, não “desmamou” ainda, retornando a fase onde ainda era uno com a mãe. Notem e imaginem os impactos disso na vida adulta. Um ser maduro com constantes pulsos voltados para o prazer oral fornecido por algo externo. 

Próxima fase: fase anal. O foco do individuo está na sua retenção e liberação de fezes. Este é um processo autônomo por si só e ninguém pode fazê-lo pela criança. Vejam que importante. Quanto mais natural for a primeira fase oral, melhor será o andamento da segunda. A criança seguirá as suas necessidades biológicas, tranquilamente criando o seu próprio ritmo. Caso ainda não haja essa evolução, haverá uma certa fixação em relação ao impacto sobre o outro. Por exemplo, a maior ou menor quantidade de atenção recebida de acordo com a manipulação de suas fezes. Todo o processo de retenção ou liberação pode estar atrelada a uma forma de impactar o outro. Seu prazer torna-se condicionado. O que antes era dado pela mãe, agora a criança é que se torna a doadora. Quanto poder nas mãos. Algumas das recomendações são de naturalização máxima no processo de tato com as fezes, para evitar reações e estímulos negativos de nojo, raiva ou má vontade na higiene realizada pelos pais. Um processo mal desenvolvido pode criar alguém que manipula outro pelo seu prazer. Alguém que se torna fixado no impacto e controle que suas ações exercem sobre o outro. Pode ficar preso a estes padrões, associando um prazer tão natural e autônomo às reações alheias. Imaginem um adulto nessa fase e suas devidas proporções. 

Próxima fase: fálica. Nessa fase o foco regressa a zona erógena mais potente. O órgão genital, seja ele masculino ou feminino. A glande no homem e o clítoris na mulher são as partes do corpo com mais terminações nervosas e mais “carregáveis”. São os maiores receptores de estímulos. Além de serem as mais potentes fontes de prazer, também há outra dinâmica nesta fase. O menino descobrirá que a menina não tem pênis, e a menina percebe que o menino tem um pênis, ou “falo”. Duas reações comuns dentro dessa fase são o medo ou a recusa. O menino pode sentir medo de perder o que acabou de descobrir, este fenômeno é chamado de “medo da castração”. A menina pode se recusar a aceitar essa realidade em não ter o falo. Em ambos os casos, ocorre o fenômeno do Complexo de Édipo. É uma fase de aceitação da autoridade paterna e também de autodescoberta, até mesmo do desenvolvimento do superego, uma instância psíquica de autoridade que tem a função de conter comportamentos inadequados para a sociedade, trabalhando como uma voz moral. Após a aceitação da autoridade, há um valioso período de autodescoberta, onde as curiosidades sobre o órgão genital serão sanadas. Há o manejo e a masturbação. Vale ressaltar que a masturbação é diferente de ejaculação. Masturbar é apenas tocar-se. É como compreender um playground em você mesmo, sem pressa, com liberdade e de forma natural. É uma etapa de adaptação. Aqui também há uma compreensão da criança a respeito da autoridade moral. Ela percebe a impossibilidade de satisfazer seu prazer genital por meio de incestos, direcionando o seu afeto para o mundo externo, dissociando-se dos pais. Essa realidade deve ser aceita integralmente. 

Conscientemente, pode ser que haja essa compreensão. Porém, inconscientemente, caso as fases anteriores estejam mal resolvidas, a dissolução do Complexo de Édipo não se realiza completamente. O tempo não para, a vida segue, e estas pendências se acumulam no processo bioenergético do corpo. Assim, há o condicionamento e limitação do prazer natural. Aqui entra o trabalho do Psicanalista. Compreender este desenvolvimento natural e, dentro do setting terapêutico, municiado deste conhecimento e com escuta ativa, ajudar com a elaboração e refazimento dos caminhos da libido do ser humano. Afinal, todos merecem o prazer.

A libido não é apenas uma energia ligada ao prazer — ela é o fio condutor da nossa história emocional, das nossas escolhas e até dos nossos bloqueios mais profundos. Quando mal elaborada, pode aprisionar o sujeito em ciclos repetitivos, padrões inconscientes e desconexão com o próprio corpo. A boa notícia é que, com o suporte certo, é possível refazer esse caminho interno e recuperar a capacidade de sentir prazer, autonomia e vitalidade.

Se você sente que algo em sua vida está travado, que há um vazio difícil de explicar ou que o prazer parece distante, agende uma sessão comigo. A psicanálise pode ajudar você a reconectar-se com sua energia vital e a transformar sua história emocional.


Uma resposta para “O Que é Libido Segundo a Psicanálise? Entenda Como Ela Influencia Sua Vida”

  1. Avatar de Raphael Bispo

    Faça o seu comentário, será bem vindo e apreciado.
    Abs

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