
A relação entre paciente e terapeuta vai muito além de uma escuta técnica. Existe uma troca viva, emocional e sutil acontecendo a cada sessão. Um dos fenômenos mais profundos nesse encontro é a contratransferência — quando o terapeuta, mesmo buscando manter sua neutralidade, é atravessado por reações internas diante da história do outro. Neste texto, vamos explorar como esse movimento silencioso influencia o processo terapêutico, como pode ser transformador tanto para o paciente quanto para o terapeuta, e por que ele precisa ser acolhido com consciência.
A psicoterapia propicia um ambiente de confiança e aprendizagem mútua. Mas veja só, isso vale para ambos os lados. Não é apenas o paciente que aprende, que cresce e que aprende a confiar. Não. O terapeuta também cresce a cada sessão. Este crescimento varia de paciente para paciente, mas cada um destes pacientes entrega uma dinâmica que fortalece o emocional do terapeuta.
No mundo onde vivemos, há uma máxima que quase todas as religiões concordam entre si, que é o amor. Poder amar uns aos outros, e esforçar-se neste sentido. Um dos impeditivos para conseguirmos chegar neste ponto é exatamente a falta de confiança entre as pessoas. Como se poderia amar alguém se você acredita que este alguém pode te prejudicar? Como se poderia amar alguém se você constantemente precisa dividir territórios escassos com essa pessoa? Como se poderia amar alguém se existe alguma traição no passado que não foi superada, ou rejeições, abandonos, etc?
Ao mesmo tempo, não conseguir cumprir essa máxima amorosa limita a sua vida. Não é possível amar alguém sem que se tenha confiança. E se você não ama, não abre o seu coração, não consegue se lançar ao mundo. Não existe peito aberto para o mundo se o movimento é exatamente de proteger o coração, gerando então as angústias. Estas angústias são tratadas em quase todas as modalidades de terapia, senão todas. Seja trabalhando pelo mental, pelo físico, pelo emocional ou pelo espiritual. É todo um trabalho conjunto para se permitir uma maior expiração em relação a vida.
Psicossomaticamente falando, seguindo uma base Reichiana, as pessoas não aprenderam a expirar de acordo. Todo o movimento é de defensiva, onde elas não conseguem se lançar ao mundo por falta de confiança. Este movimento fica presente no corpo e na respiração descoordenada, onde as pessoas mais inspiram e inspiram, e esquecem de expirar. As emoções ficam presas e alojadas no corpo sem uma livre vazão. Essa vazão tem o movimento de fluxo, ir e vir, inspirar e expirar, e é representada principalmente pela respiração. Ninguém fica sem respiração. Aprender a confiar é o mesmo que aprender a respirar.
Quando um terapeuta recebe um paciente novo, ele tem uma missão de amar. Ele tem todo um arcabouço de conhecimentos e ferramentas para auxiliar uma pessoa a conseguir respirar de forma fluída mais uma vez, reparando as angústias, liberando as tensões, tornando-a íntegra novamente com o seu ambiente. Para fazer este movimento de amar, o terapeuta também precisa lidar com as suas próprias questões internas. O terapeuta também respira, não é? Existe um movimento onde o terapeuta se torna uma espécie de espelho, ouvindo e desenrolando o psicológico de seu paciente, de forma que ambos consigam olhar juntos e elaborar novos caminhos.
Acontece que, inconscientemente, o paciente também segura este espelho para o terapeuta. O terapeuta aqui é solicitado a manter a sua neutralidade, atendo-se aos seus conhecimentos para reparar ou aprimorar o psicológico do paciente, porém durante a terapia ele também está suscetível a receber estímulos que lhe causem reação. É como um jogo de xadrez. Ação-reação-ação-reação. Porém, devido ao contrato entre paciente e terapeuta e a profissão, neste caso, a cura e melhora, objetivamente falando, está apontada para o paciente. A forma como o terapeuta aprende é 100% interna, e mesmo que ele não fale de si, devido a própria ética da profissão e conduta da terapia, ele também aprende. Aprende observando. Aprende comparando com as situações de sua vida. Aprende se colocando no lugar.
Ao fim de uma terapia, tanto o paciente quanto o terapeuta cresceram juntos, por meio da experiência do paciente. Portanto, não existe um terapeuta que seja um robô, um Deus, um sacerdote. Existe um comprometimento com a neutralidade em comportamento, é claro. Mas dentro do terapeuta, os pensamentos continuam acontecendo, as reações emocionais também continuam acontecendo, e toda uma bioquímica vai se formando. O terapeuta mostra então a sua exímia habilidade em lidar com as emoções, partindo principalmente das suas. Inclusive, muitos dos terapeutas, por meio das suas contratransferências, consegue aprender e superar junto de seu paciente o que precisa ser superado. Pois, caso não supere, também chegará um ponto em que ele não será mais útil para o paciente.
Tudo isso acontece dentro do terapeuta também. Ele é um ser humano com funções emocionais e mentais, também. Por isso é recomendado que o próprio terapeuta também seja analisado até o ponto em que as contratransferências não sejam empecilhos para o prosseguimento de um atendimento. Que o processo interno do terapeuta não interfira diretamente em sua relação com o paciente, ao menos no externo. O terapeuta prossegue como um mistério, como um condutor neutro, hábil, conhecedor, na figura do suposto-saber, como diz Lacan, para auxiliar até o fim na reconstrução de seu paciente.
A contratransferência mostra que o terapeuta também sente, respira e se transforma. E é exatamente por esse caminho humano que a psicoterapia se torna tão potente. Se você sente que precisa de um espaço de acolhimento, transformação e crescimento emocional, a terapia pode ser esse início.
Vamos juntos nessa jornada? Agende sua sessão e dê o primeiro passo rumo à sua própria cura.
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