
O que torna alguém um psicanalista? Existem discussões e debates a respeito, porém, há um consenso que circunda em torno de alguns itens que são essenciais para a formação. Um deles é o estudo teórico de Freud. Sim, afinal, Freud foi aquele que inaugurou este conhecimento. Foi aquele que ousou ir além da medicina tradicional, sua formação de base por sinal, e se aprofundou nos motivos psicológicos por detrás dos sintomas. Não bastava apenas reconhecer o sintoma como tal, mas precisavam ser entendidas as próprias concepções do paciente a respeito e como elas atualmente influenciavam na constituição deste mesmo sintoma. Por trás da linguagem e da fala, descobriu como seria possível averiguar causas, atuando nas origens, perfazendo assim curas permanentes.
Outro processo importante é a passagem pela supervisão. Aqui o futuro psicanalista pode realizar os seus atendimentos com a segurança de um acompanhamento mais maduro. Isso irá propiciar o incentivo necessário e eliminar o isolamento. Pelo tratamento envolver completamente o “escavamento” do inconsciente do paciente, muitos conceitos abstratos surgem e as possibilidades de direcionamento são amplas. Portanto, neste início, onde há todo aquele cuidado e cautela para manejar com sucesso os conteúdos inconscientes que vem à tona, ter a presença de um psicanalista que já passou por este mesmo processo é importante. A figura aqui é de alguém que irá ajudar com a sua própria moldagem. Não necessariamente você terá que seguir 100% o que o seu supervisor orientar, visto que você precisa criar o seu próprio estilo com o tempo. Porém, certas situações são atípicas e irão ocorrer com qualquer psicanalista, sendo assim a presença de alguém mais maduro irá te orientar e auxiliar a seguir em frente neste processo e pegar a confiança necessária.
O terceiro processo é o que naturalmente é visto como mais essencial de todos, e que sem ele, os outros dois não são suficientes para te promover psicanalista. Aqui é o processo de análise pessoal. O próprio Freud no período, passou por um longo processo de auto-análise, estudando os seus sonhos por grandes períodos de tempo, compreendendo as suas emoções e se aprofundando em todos os conceitos por meio de si mesmo. Nos tempos de hoje temos a facilidade de possuir outros analistas que podem nos auxiliar com este processo, muito graças ao caminho que Freud ousou seguir sozinho. Sem isso, Freud não teria conseguido seguir. Por quê? Veja bem, observe o dia a dia, e o diálogo entre as pessoas. É muito comum as pessoas compartilharem os seus problemas umas com as outras e receberem conselhos para tais. Vamos supor que a pessoa que pede conselhos é uma que acabou de terminar um relacionamento de anos. Ela pede conselho para duas pessoas diferentes, sendo uma delas alguém que é de origem católica e que é casada há alguns anos, com uma família unida. E também pede conselho para alguém que tem pais separados e desfruta de sua vida de solteiro, focando unicamente em si mesma. Ela receberá dois conselhos diferentes, a primeira pessoa dirá para ela tentar reatar, enquanto a segunda dirá para ela focar em si mesma.
Independente de qual seja o correto ou o melhor a ser seguido pela pessoa que pediu o conselho aqui, o fato é: cada um vai aconselhar de acordo com a sua vivência e experiência pessoal. Por isso é essencial que o psicanalista passe pelo seu próprio processo de análise pessoal, para evitar que a figura de conselheiro, refletida no papel de autoridade do “suposto-saber” ou nos papéis levantados em contra-transferências tornem os atendimentos imparciais e moldados por suas próprias emoções. Veja que as suas próprias emoções e desejos não devem interferir no atendimento de seu paciente, visto que você não o conhece, e o processo trata-se exatamente de trazer o inconsciente dele à tona para ajudar em sua reconstrução.
A fase de análise pessoal é vivida quando o futuro psicanalista se submete ao seu processo de análise. Ele irá viver o papel que seus pacientes viverão futuramente, e somente assim poderá compreender o desenrolar de seu próprio inconsciente. Entretanto, o processo principal aqui é poder entender os desejos recalcados em seu inconsciente por meio dessa análise, de forma que estes desejos sejam compreendidos e superados em sua integralidade. Somente assim, estes desejos não interferirão no processo de análise de seus pacientes. Poderão no máximo ser rememorados por meio da contra-transferência que ocorre, mas com o ego bem trabalhado e consciente deste desejo, o psicanalista será capaz de retê-los e impedi-los de se aventurarem dentro do setting terapêutico. Quando isso ocorrer, o paciente poderá se abrir cada vez mais. Ajudar-se é possibilitar-se ajudar o outro. Aqui é onde você conhece a si mesmo. Experiência prática, tão necessária quanto a teoria.
Ao juntar estes 3 ítens, o psicanalista enfim terá o caminho consensual necessário para exercer a sua prática. Obviamente que somente quando o aspirante sentir-se pronto para seguir em frente, assim o fará.
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Texto escrito para o IBPC – Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica como redação para seus módulos de formação.
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