
Vivemos em uma sociedade marcada por opiniões polarizadas e intensas, muitas vezes guiadas por emoções profundas como o amor e o ódio. Mas de onde vêm essas emoções que nos fazem tomar posições tão firmes diante do mundo? Neste artigo, vamos refletir sobre como nossas vivências infantis moldam nossa forma de ver a realidade e como a psicanálise pode ajudar a elaborar essas emoções para promover mais equilíbrio, consciência e transformação pessoal.
Convivemos em sociedade. Uma sociedade brasileira onde o que reina é a diversidade, formas diferentes de se pensar e uma riqueza cultural enorme. Estamos juntos nas ruas, nas escolas e universidades, nos trabalhos, nos eventos, em áreas de lazer e em lugares afins.
Nessa sociedade existem alguns problemas vigentes e conhecidos, a respeito de criminalidade, desigualdade e miséria. Isso não é segredo. É um debate conhecido e espalhado nas televisões, nas rádios, nos botecos, nas universidades, nas empresas, em todo lugar. Existem opiniões divergentes, onde cada uma das linhas de opinião aponta algum ou alguns culpados.
O apontamento de culpados irá variar de acordo com a cultura de cada pessoa, estudos, mas também principalmente de acordo com a sua vivência infantil emocional. Arrisco dizer que a vivência infantil emocional é o que mais pesa na decisão, por detrás de tudo. Quando digo isso me refiro a sua criação, ao seu entorno, aos seus acontecimentos e relacionamento com pais e/ou cuidadores. De uma forma ou de outra, cada um puxa a sardinha para o seu lado, consciente ou inconscientemente.
Vou dar alguns exemplos práticos: uma pessoa que conviveu em um lar onde o pai constantemente batia na sua mãe, pode tender a discussões que dizem que o machismo é o mal que deve ser atacado, que as mulheres devem ser fortalecidas, e seguir pela linha da igualdade de gêneros. Outra pessoa que conviveu em uma periferia e passou a infância assistindo ao confronto entre traficantes e policiais nas proximidades de sua casa e perdeu algum amigo ou familiar, pode tender a discussões que dizem que o policiamento brutal é o mal que deve ser atacado, que a cultura periférica e o hip hop é o que deve ser estimulado. Outra pessoa que conviveu em uma família e teve algum membro dela morto em atropelamento feito por um motorista bêbado pode tender a soluções onde o alcoolismo seja o mal que deva ser atacado, e onde a sobriedade e disciplina devam ser estimuladas.
Situações atípicas, individuais e emocionais regem o psicológico de cada um. O que vale ser ressaltado aqui é que essas situações que geram amor ou ódio precisam ser transmutadas. Como assim? Os 3 casos acima são situações que provavelmente suscitaram algum tipo de ódio dentro do individuo. Este ódio continua internalizado. Pode ser consciente, ou recalcado no inconsciente. Em ambas as situações, o ódio está sendo um combústivel para as ações da pessoa. Agora imaginem isso exponenciado. Quantas pessoas não estão por aí, carregando ódio provindo de situações emocionais infantis? Apontando culpados, aguardando a solução proposta pelos mesmos e iniciando toda essa jornada externa para dar vazão ao seu próprio sentimento.
Neste caso, eu insiro a importância da Psicanálise como uma ferramenta de autoconhecimento. A psicanálise vem demonstrar que todas as suas emoções podem e devem ser elaboradas por meio da linguagem verbal ou não verbal. A psicanálise propõe um ambiente, conhecido como “setting terapêutico”, onde você irá trabalhar as emoções que estão guiando os seus movimentos no dia a dia. Um terapeuta irá te acompanhar e possibilitar que você traga todos os aspectos de seu ódio para fora, por meio da fala, e ressignifique o ocorrido. Por que isso é importante? Primeiramente, é importante para a sua própria saúde mental e emocional. Com ódio ocupando tanto espaço dentro de você, como você terá espaço para outros sentimentos mais ternos? Estes sentimentos ternos, aliás, estão por detrás de todo o ódio, que é incentivado por um sentimento de vingança, afinal, feriram a nós ou a quem amamos. Em segundo lugar, é importante para a reconstrução da sociedade. Quando as suas emoções estão te dominando dessa maneira, a sua tentativa de propor soluções estará sempre munida de sua vivência emocional infantil, ou seja, sobrecarregada. Em uma construção de novas leis, novas formas de se enxergar, melhorias para a sociedade, o que ocorreu no passado não é necessário. Como assim? Quero dizer que trazer a emoção de ódio pela perda de um familiar para a construção de uma melhoria não é o local correto. Não é o local para que haja a devida descarga emocional. Na realidade, toda a descarga emocional precisa ser realizada antes, para que o trabalho possa ser bem efetivo.
Vamos dar um exemplo com o caso do machismo. O ódio da pessoa pelo pai e pela submissão da mãe é o que originou a vontade de atuar em uma solução nessa área. Mas não é necessariamente essa energia que irá atuar na solução. O ódio é direcionado para o pai, unicamente para o pai. É o objeto central. Quaisquer outros objetos estariam fora de lugar. A descarga emocional tem um endereço, e este refazimento, anexando os afetos aos seus respectivos endereços, é o que irá te proporcionar saúde mental e emocional para conviver em sociedade sem exageros, ou sem desproporcionalidades. O ódio inicial pelo pai não deve se traduzir em um ódio por qualquer homem que em alguma ocasião seja bruto com uma mulher. Pensando exponencialmente, se todos transferissem a sua vivência emocional infantil e os objetos de seus afetos para a sociedade, não seria possível a criação de um ambiente onde novas soluções possam surgir. Seria eternamente um confronto de emoções intensas com objetos perdidos, que se encontram dentro do psicológico de cada um.
Entender suas emoções e perceber como elas influenciam sua visão de mundo é o primeiro passo para uma vida mais livre, equilibrada e consciente. A psicanálise oferece um espaço seguro onde você pode elaborar traumas, recalcar ódios e reconectar-se com suas emoções mais profundas — não para se perder nelas, mas para ressignificá-las.
Se você sente que suas dores do passado ainda moldam suas opiniões, relacionamentos e decisões no presente, talvez seja a hora de olhar com mais cuidado para isso. Agende uma sessão de psicanálise comigo e comece essa jornada de transformação emocional. Seu mundo interno também merece cuidado.
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