
Você sabia que seus sonhos podem conter respostas para seus conflitos internos? A psicanálise se vale do sono como um aliado na escuta do inconsciente. Entenda por que anotar e interpretar sonhos pode ser um passo transformador na sua jornada emocional.
Há uma ferramenta que é utilizada pelos terapeutas para conseguir mapear o psicológico do analisando. Essa ferramenta é misteriosa e absolutamente íntima de cada um: é o sonho.
Os seres humanos em média passam de 16 a 18 horas acordados, e de 6 a 8 horas dormindo. O ato de dormir é necessário para que o corpo repouse, juntamente com a própria mente, constantemente sobrecarregada em seu sistema nervoso. Porém, mistérios rondam este período.
É sabido que durante o sono o nosso corpo repousa absolutamente e nosso cérebro sofre alterações já mapeadas cientificamente no que tange às suas frequências em hertz. Quando estamos acordados, o nosso cérebro constantemente está processando os estímulos recebidos pelos nossos 5 sentidos, gastando energia para isso, por meio de suas passagens pelo nosso arcabouço de lembranças do hipocampo, ativações da amígdala em caso de perigo, ativações do neocórtex frontal em caso de decisões a serem tomadas. Este gasto de energia precisa ser reposto.
Pode-se dizer que durante o dia estamos frequentemente vibrando em ondas mais aceleradas, a partir de 8 hertz, alfa, até níveis acima de 33 hz, gama. Toda essa frequência é necessária para reagir aos estímulos cada vez maiores da civilização, que diariamente avança tecnologicamente. Todos os dias precisamos de repouso. Esse repouso operacionalmente desacelera a nossa frequência em hertz, de forma que possamos nos regenerar. É como um recarregar de baterias. A nossa frequência desce até os níveis delta (abaixo de 3 hertz). Isso proporciona um relaxamento ao corpo.
Então, há um movimento ondulatório durante as horas de sono. Relaxamos e novamente subimos de frequência, porém, isso ocorre enquanto nosso corpo está relaxado e inerte, sem estímulos de nossos 5 sentidos. Sendo assim, nosso cérebro nunca para de funcionar, mesmo enquanto estamos dormindo. Quando o nosso cérebro retoma altas frequências em paralelo ao nosso corpo imóvel, chegamos ao estado R.E.M, rapid eye movement. Estamos literalmente, acordados, com o corpo dormindo. Nisso, um novo mundo se abre, é o mundo dos sonhos, das imagens. Essas imagens são variadas e relativas a cada um. Segundo a psicanálise, elas variam entre impulsos do ID, lembranças e impressões referentes ao próprio dia, e impressões sensoriais do momento, por exemplo em casos de barulhos e tempestades.
Em sessões psicanalíticas, o intuito é compreender o funcionamento da mente do analisando e ajudá-lo a superar conflitos inconscientes, reduzindo o seu estado de angústia. Os sonhos aqui funcionam como facilitadores, por produzirem abundantemente materiais para serem interpretados. Uma das grandes vantagens é que raros são os que conseguem chegar ao nível de “onironautas”, e controlar os acontecimentos de seu sonho, sendo necessário um nível agudo de autoconhecimento e dons mediúnicos para tal. Dessa forma, os materiais que surgem durante o sonho abrem alas para o inconsciente, e são livres de manipulação. Por vezes, até mesmo o próprio analisando não compreende o seu significado e sente-se curioso. Tudo isso é um grande auxílio para o andamento das sessões, e existem formas adequadas para que essa interpretação seja feita, trazendo a maior quantidade possível de insights e elaboração.
Um ponto que é deveras importante trazer também é referente a manutenção do sono. Em muitos dos transtornos mentais, é relatada a privação de sono ou até mesmo o excesso dele. O seu cérebro precisa dar cabo e processar todas as impressões que recebeu, criando alguma significação. Se as horas de sono não são respeitadas, o seu cérebro torna-se sobrecarregado, como na insônia. A sua falta de relaxamento por meio do filtro das ondas frequenciais mais baixas pode apenas agravar as situações que são ruminadas durante o dia. Vejam que este é um fluxo natural que é evidenciado pela própria natureza, que irradia o Sol durante o dia, e recolhe-o durante a noite. A psicanálise não usa unicamente os materiais dos sonhos para prosseguir o seu trabalho, embora sejam relevantes, mas perceba que independente deles, o sono é sempre um calibrador dos níveis de saúde mental.
Agora, voltando aos elementos dos sonhos. É sabido que vivemos em uma sociedade deveras estimulada por meio do avanço das tecnologias e redes sociais. Muito destes estímulos são sexuais, principalmente provindos das redes sociais. Cada um destes estímulos sexuais libera dopamina e ativa o circuito de recompensa cerebral, satisfazendo desejos reprimidos em partes. Apesar de tudo isso ser uma quantidade incrível de estímulos, possibilita que durante o sono muitos sonhos ocorram para compensar a quantidade de informações recebidas durante o dia e elaborá-las. Portanto, é válido notificar o analisando para que tome nota de seus sonhos. Muitos não percebem ou não possuem este hábito, porém, a partir do momento que intencionam, começam a lembrar-se espontaneamente deles e anotarem as suas impressões. Ao anotarem as impressões, começam a associá-las ao humor que os acompanham durante o dia. Alguns itens devem ser percebidos após um período de pelo menos 1 mês: os personagens que são recorrentes, as situações que são recorrentes, os locais que são recorrentes e os sentimentos que são recorrentes.
As anotações em seu diário dos sonhos podem trazer pistas e escancarar o seu inconsciente. Este escancarado traduz-se nestas imagens, que devem ser analisadas e associadas livremente, de forma que o consciente faça o que a psicanálise exige: tome consciência do inconsciente.
Seu inconsciente está sempre tentando se comunicar — e os sonhos são uma das formas mais puras dessa expressão. Se você sente que há mensagens escondidas por trás deles, considere trazê-los para a terapia. Agende uma sessão e vamos juntos interpretar os sinais do seu mundo interno.
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