
Se você está buscando uma análise psicanalítica profunda do filme Um Amor para Recordar, com reflexões sobre relações familiares, afetos reprimidos e o poder transformador do amor, este artigo é para você. Acompanhe a seguir uma leitura emocional e simbólica desse clássico, com base em princípios da psicanálise e espiritualidade.
O Amor que Transforma
Este é um filme que é capaz de arrancar muitas lágrimas, assim como foi comigo. Há cenas repletas de pureza e sensibilidade, características da definição bíblica do amor:
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
Dentro deste filme há também uma dinâmica muito interessante que traz reflexões profundas sobre psicanálise e sobre a relação dos pais com os filhos. A história gira em torno de Langdon e Jamie.
Langdon: A Dor de um Pai Ausente e o Rechaço à Autoridade
Começando por Langdon. Ele é um adolescente que mora com a mãe. Seu pai divorciou-se de sua mãe e agora está casado com outra mulher. Uma criança não compreende muito bem o porquê das coisas e pode se ressentir facilmente. Langdon, neste caso, cultiva mágoa em relação ao seu pai, considerando que ele abandonou tanto ele quanto sua mãe no divórcio. Essa atitude o revoltou. A sua figura de autoridade paterna no psicológico estava quebrada e fragmentada, não podia confiar em autoridade alguma e constantemente as desafiava. Tudo como um reflexo do afeto inicial que dizia: por que nos abandonou? Por que fugiu? O eco dessa atitude é algo que se propaga em seu comportamento atual e, enquanto esse afeto não for entendido e transmutado em sua essência, o condicionaria pelo resto de sua vida. Mas, cada qual no seu tempo consegue a experiência necessária para quebrar ciclos, e Langdon teria essa quebra de ciclo com a aparição de Jamie.
Langdon na escola era o rapaz popular. Os populares são aqueles que não se intimidam pelo ambiente em que estão inseridos nem pelas figuras de autoridade, na realidade, constantemente eles os enfrentam. Essa busca pelo pé de igualdade é o que fazem eles se tornarem populares, ao serem referência para outras pessoas que são mais comportadas, digamos assim. Cria-se uma evidência e então a popularidade. No caso de Langdon, o que inspirava ele a fazê-lo não era necessariamente a discordância do ambiente em que estava inserido, mas o seu afeto mal processado em relação ao seu pai – que a principio é a figura de autoridade inicial para alguém. Este afeto era direcionado para a escola e para todas as situações de sua vida. Regras não deveriam ser seguidas pois autoridades não mereciam respeito. Invasão de propriedade, uso de álcool, cigarros, tudo isso estava liberado. Langdon não é o único. Na sociedade em que estamos, é muito comum que o uso severo da autoridade pelos pais em detrimento da construção de uma relação afetiva crie revoltas e indignações nas crianças, que se sentem humilhadas e tem o seu espírito fragmentado. Aqui, Langdon encontra a sua turma de desgarrados, onde tentam substituir o afeto que não tiveram. Mas o que une essa turma é exatamente o afeto mal elaborado. Portanto, a base não é firme. É instável, é selvagem, é o puro caos. Esse caos fica muito mais profundo quando se aproxima da adolescência, que é o momento onde a puberdade e urgência sexual avançam para o seu auge, exigindo movimentos mais amplos em busca de satisfação sexual e alívio.
Na escola é assim, as pessoas encontram grupos onde consigam ser aceitas, onde possam expressar-se, visto que não encontram este mesmo espaço dentro de seu lar, que constantemente é repressor. Porém, essa dinâmica não valoriza a individualidade e soterra os afetos. O afeto não morre, continua vivo, e continua sendo a base para todas as atitudes da pessoa na vida. Isso se torna a sombra psicológica dela, o caminho de sua líbido, seu condicionamento, seus “inprints”, são diversos termos que podem ser empregados. Este afeto soterrado continua a tentar sair, mas se vê preso, e isso retira a própria criatividade da pessoa, fazendo-a agir negativamente, podendo piorar a sua situação a depender da intensidade. E o filme já começa assim, com o grupo de populares atraindo um menino que também deseja ser popular para uma situação perigosa, este menino quase morre afogado pela inconsequência de todos. Veja como as sombras podem gerar situações trágicas e confusas, e isso tudo vai criando um emaranhado, uma bola de neve. O caminho de volta cedo ou tarde tem que ser feito.
Jamie: A Filha Protegida, Condicionada e Silenciosamente Amorosa
Agora Jamie. Jamie é filha de um pastor, logo, toda a sua infância é passada sob este âmbito religioso, onde a disciplina, retidão e certo repúdio em relação as “coisas do mundo” é propagado. Nunca chegou a conhecer a sua mãe, que morreu no parto. Enquanto Langdon teve a falta de um pai, Jamie teve a falta de uma mãe. Os dois se espelhavam profundamente neste sentido. Um ponto que é interessante notar também é que estes dois já estavam presentes em seus campos energéticos desde a infância, porém, nunca se encontraram, nunca se aprofundaram um no outro. Eram apenas conhecidos. Poucos se aventuram a ir além das fachadas das pessoas hoje em dia, visto que essas fachadas já são motivo de separação. Cada grupo, cada rótulo no seu quadrado, e estes grupos e rótulos são orgulhosamente defendidos, pois servem de defesa para a exposição profunda do ser. Jamie cresce protegida pelo seu pai, e vai criando desde cedo um senso de responsabilidade e seriedade exagerados. Seu superego é refinado e forte, diferente de Langdon, que despreza as figuras de autoridade. Jamie então cresce sozinha e se aventura no mundo da imaginação, nos estudos, nos livros, e se torna a filha dedicada e devota. Desenvolve qualidades genuinamente amorosas, tão sensíveis, que constantemente são protegidas pelo seu pai. Essa infância a condiciona a pouco se aventurar. A se esconder do mundo real e ater-se somente às suas responsabilidades. Não necessariamente porque ela não queira, mas porque ela também não tem a força necessária para explorar o mundo. Sua fragilidade é tanta que a acompanha em uma doença chamada leucemia. Isso a encolheu ainda mais para o mundo. Presa dentro de suas caixas em um excesso de proteção que a impedia de emanar a sua energia vibrante para um mundo que tanto precisa. Jamie admira Langdon em segredo por sua popularidade e por ter a ousadia de aparecer. Ambos se complementam em suas diferenças e ajudariam um ao outro a quebrar seus ciclos de vida reativos.
Teatro, Anjos e a Liberação dos Condicionamentos
Gosto de trazer aqui o aspecto do teatro e da dança. Como a arte é importante para expressão de sentimentos guardados em nosso âmago. Langdon é forçado a cumprir trabalho voluntário e participar de uma peça para compensar todo o dano causado por sua inconsequência. Neste momento é que gosto de dizer que anjos intervém. Os anjos são os mestres dos sentimentos e operam exclusivamente neste plano. A situação inconsequente no começo do filme teve salvação. Ninguém saiu morto e todo o engendro posterior foi sendo guiado para a recuperação integral de Langdon. Jamie diz adiante a mesma coisa para Langdon: você é meu anjo. Um foi o anjo do outro. Mas agora, voltando para o teatro. Langdon foi totalmente pego de surpresa, ele não imaginava que teria que atuar. Atuar te coloca em outras situações. Você cria um contexto onde pode expressar seus sentimentos e se soltar um pouco mais. Neste processo, pode acabar escavando partes de si mesmo que estavam escondidas. Isso ajuda a trazer as sombras à tona. A história de romance que Langdon interpretaria o ajudou a trazer a tona todo o seu eu mais sensível. Assim como Jamie, que detinha uma aparência mais caseira, e dentro da atuação pôde colocar um vestido chamativo, soltar o seu cabelo. Ambos foram além de seus condicionamentos mesmo que de forma planejada e roteirizada. Puderam respirar livremente e abrir o coração. A partir daí muita coisa acontece, e eles vivem tudo isso juntos. A partir do primeiro beijo de ambos, todo o sentimento que estava guardado pôde vir a tona, afinal, o toque dos lábios é capaz de transmitir os sentimentos de forma que nenhuma palavra pode expressar.
Conclusão: A Integração dos Egos e o Sopro do Amor
A partir da liberação de seus eus aprisionados, Langdon e Jamie passaram a viver em total integridade. Viver com o ego e com as fachadas é limitado. Pode parecer bonito, pode trazer algum certo tipo de reconhecimento, mas isso vem às custas da sua espontaneidade, às custas de sua própria felicidade. Depois que você consegue se integrar com o seu ser, a vida ganha uma nova qualidade, o amor tem um sopro de vida que vai limpando o seu ser, retirando mágoas, raivas, tristezas, e te trazendo um novo paradigma. É aqui que as lágrimas brotam. Recomendo muito que assista a este filme para compreender na pele o que estou falando.
Essa leitura emocional e psicanalítica de Um Amor para Recordar revela como nossos bloqueios inconscientes e feridas familiares podem ser transformados pelo amor verdadeiro. Se você se identifica com essas questões e quer iniciar um processo de cura emocional e espiritual, agende sua sessão de psicanálise comigo. Vamos juntos acessar seu inconsciente e ressignificar sua história.
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