
Você já se perguntou por que, mesmo entendendo racionalmente suas dores emocionais, parece que elas não vão embora? Na psicanálise, a verdadeira cura não acontece por conselhos prontos ou interpretações diretas. Ela surge da elaboração profunda feita pelo próprio analisando. Neste artigo, vamos explorar por que o papel do analista não é dar respostas, mas criar espaço para que você encontre as suas. Vamos falar sobre transferência, neutralidade técnica, e o motivo pelo qual o “me deixe falar” de Emmy representa uma das chaves mais importantes para a transformação psíquica.
O analisando precisa ver com os próprios olhos. Em outras palavras, se ouvir falar, por elaboração própria. Para um analista, com o seu conhecimento técnico e experiência, pode ser fácil diagnosticar qualquer caso. Pode-se identificar o mecanismo do ego que está ativado, os assuntos em que há resistência, a fase do Complexo de Édipo em que esteja, até mesmo saber quem o analisando está projetando na sua figura. Isso deve ser natural e observável em poucas sessões.
Porém, a partir daí que entra a afirmação de Emmy “Me deixe falar”. Vejamos a efetividade. Exemplo um. O analista resolutamente diz ao analisando: “ei, você não resolveu a questão da atração pelo seu pai e a repulsão pela sua mãe. E de acordo com o que falamos até aqui, essa atração está voltada para a pessoa X na sua vida, por isso você só atrai relacionamentos assim, etc”. Claro que isso pode ser verdade. Também é lógico que não deve-se afirmar antecipadamente. A análise tem que ser profunda, e suposições antecipadas podem atrapalhar a investigação da real origem. Contudo, sabe algo que seria ainda pior? Externar essa suposição para o analisando. Isso o deixaria ainda mais na defensiva, dificultando a neuroplasticidade. A consciência do que está recalcado ajuda a liberar o afeto e gera a ab-reação. É parte da cura, sim. Mas não se trata de apenas dizer ao analisando. Se assim fosse, bastaria um esforço do analisando com a leitura de artigos e livros sobre o tema, se enquadrar na teoria e pronto, estaria curado.
A tomada de consciência não se resolve por sugestões externas ou por apontamentos, por mais precisos que sejam estes. É necessário que o analisando possa elaborar de forma autônoma o seu sintoma, perpassando por toda a sua construção psíquica sustentadora da doença. Ou seja, reconhecer por si só, utilizando a sua consciência para isso. Faço uma analogia com o ato de colar na prova. É dia de prova, todos os alunos estão na sala. Há uma pergunta dificil e a resposta é X. Um aluno mais adiantado na matéria passa a resposta para o outro. O que recebeu a resposta de fora até vai passar na prova, porém, não houve esforço da sua parte em trilhar a busca pela resposta dentro da sua mente. Provavelmente, daqui a alguns meses, não haverá marcas deste conhecimento para aquele que aceitou a cola.
Cabe ao analista manter a sua neutralidade e não dar as respostas. Dê o mecanismo questionador para que o analisando se cure, e todo o suporte necessário. Somente assim a cura pode ser efetiva. As evidências disso baseiam-se nas sugestões hipnóticas sendo substituídas pela associação livre. Encontrar o sintoma é apenas a primeira parte do processo. A hipnose baseava-se em dar uma nova sugestão para que a mente drible o sintoma, e tome caminhos diferentes, porém, também se trata de uma solução externa, a qual o analisando precisa “concordar”, não realmente elaborar. Em um caso de sorte, pode ser que realmente não hajam novas interligações mentais e a sugestão seja aceita. Foi uma sugestão externa, mas o próprio cérebro conseguiu perfazer e elaborar. Porém, mesmo assim, é arriscado. Pode ser temporário, somente um alívio. Entra a questão: busca-se a cura definitiva ou alívio para os sintomas? Sim, precisa-se compreender o porquê, mas aceitar uma sugestão por si só não fortalece o ego. Mais analogias. Uma analogia da academia. Alguém levanta um peso do chão de 50kg e te dá para segurar. Você aguenta segurar, mas não houve esforço no tranco inicial de retirá-lo do chão. Logo, na próxima vez em que for exigido este esforço, você não conseguirá, pois não fez o esforço completo. Não se tornou autônomo ou maduro no processo. Um analista não pode ser uma bengala, pois neste caso, a transferência também se torna um risco.
O processo da transferência ocorre entre analista-analisando. É o vínculo entre os dois onde o analisando transfere o afeto para o analista, de forma que haja confiança para expressão. O analista deve manejar essa transferência, de forma a extrair cada vez mais informações do paciente. Quanto maior a confiança, maior a expressão. Durante este processo, gradualmente o analista vai se tornando uma figura de autoridade. Se a transferência não for manejada corretamente, e o analista deixar de lado a sua neutralidade necessária, pode atrasar mais a cura do analisando. A neutralidade não pode coexistir com os julgamentos e apontamentos. Portas que estavam prestes a serem abertas pelo paciente se fecham com isso. Os mecanismos se ativam. Manejar corretamente a transferência é manter-se neutro por meio da atenção flutuante. Não é necessário que se aponte caminhos. A associação livre, como o nome já diz, pressupõe a liberdade. O analista deve abrir caminho para a exploração do psique de seu analisando, auxiliando com as elaborações, e realizando perguntas que instiguem o autoconhecimento. O foco é a cura e o fortalecimento do ego. Mas este é um caminho que cada um deve percorrer por si mesmo.
“Pare de me fazer perguntas e me deixe falar.”
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”. – Jung.
A psicanálise é um convite à autonomia emocional, à escuta interna e à coragem de enfrentar o que está recalcado. Nenhuma cura verdadeira acontece sem que você, com apoio e escuta especializada, elabore seu próprio caminho. O analista não está aqui para apontar respostas, mas para te ajudar a encontrá-las dentro de si.
Se você sente que está pronto para iniciar esse mergulho profundo na sua psique, agende uma sessão de avaliação psicanalítica online. Vamos juntos dar o primeiro passo rumo à sua liberdade emocional e autoconhecimento.
Deixe um comentário