A psicanálise oferece um vasto universo de conhecimentos sobre a psique humana, revelando novas formas de compreender as relações entre as pessoas. Um dos conceitos centrais nesse campo é o afeto — as trocas emocionais que moldam nossas vidas e influenciam quem somos. Neste texto, vamos explorar como a psicanálise ajuda a identificar e liberar condicionamentos que bloqueiam essas trocas, permitindo um processo de autoconhecimento e liberdade emocional essencial para uma vida mais plena.

A psicanálise é rica. Todo o seu arcabouço de teorias e conhecimentos a respeito do funcionamento da psique humana te faz enxergar as relações entre as pessoas de outra forma. Um dos grandes destaques dentro da psicanálise refere-se ao afeto. Somos pessoas individuais, cada um com o seu sistema nervoso, corpo, mente e alma, vivendo dentro de um planeta. A soma até agora já bateu 8 bilhões de pessoas. A relação entre as pessoas dentro do tempo e espaço é a vida em si.

Afeto, do latim affectus, traz a significância de “inclinar-se”, “disposição”. O espaço é limitado, portanto, as pessoas acabam topando-se umas com as outras no caminho e respostas são exigidas. Cada troca direcionada é uma forma de afeto. As trocas podem ser verbais, não verbais, e há até mesmo as inconscientes, como por exemplo torcedores de um mesmo time que compõem os “30 milhões de torcedores”. O fato é: as pessoas estão aqui para se relacionar e experimentar.

As possibilidades de como efetuar essas trocas são infinitas, mas nem todos estão aptos a tornar o seu sistema flexível para inclinar-se a qualquer tipo de troca. O motivo são os condicionamentos e fixações que foram impressas. Cada um ficou marcado de uma maneira particular, e muitas vezes essas próprias marcas são as que nos delimitam. Estas marcas geram identificações do ego, consequentemente criando divisões e impedimentos na troca e livre expressão. Dificilmente o da direita vai gostar de frequentar o mesmo lugar da esquerda, sem falar nos conflitos entre nações, judeus e palestinos, imaginem só. 

Seria bem mais trabalhoso encontrar uma solução global e exigir um “aceite” coletivo: “tenham menos preconceito, assim poderão ter mais trocas, mais afetos, serão mais livres, mais felizes.” Portanto, focamos nas soluções individuais, onde uma pessoa consegue se libertar de seus próprios condicionamentos, tornando-se alguém mais disposto a trocar, a se afetar, a experimentar, viver. A psicanálise é uma ferramenta efetiva para possibilitar que as pessoas criem a coragem de se expressar livremente. Por que tão efetiva? Por estudar o psicológico das pessoas. Essa área pode explicar porque as pessoas fazem o que fazem. Quais são suas motivações, necessidades e desejos? Entendendo a origem e o operacional dos indíviduos, a psicanálise se torna capaz de propor soluções. O potencial da psicanálise é tão enorme que, alinhada com outras áreas de conhecimento como sociologia, economia, antropologia, história, entre outras, com certeza um dia terá um papel importante na alteração do paradigma da humanidade.

Quando alguém se submete a terapia psicanalítica comprometido a resolver os seus condicionamentos, começa a perceber um fenômeno interessante de  desenvolvimento de independência, ou autossuficiência. Os pacientes trazem as suas demandas e falam sobre os seus condicionamentos de forma aberta. Todos, sem exceção, foram marcados pelo afeto entre as pessoas de seu entorno. Alguém afetou essa pessoa. Quão forte foi esse afeto? Falo do afeto dos cuidadores. Afeto de uma namorada. Afeto de um irmão. Afeto de um amigo. Afeto de um patrão. Afeto de outro ser humano na outra ponta. Pessoas influenciando pessoas o tempo inteiro. Sessão após sessão, quando elaboramos as questões internas, desde que mantido o comprometimento com a cura, cada uma das influências condicionantes é revisitada. 

Tudo aquilo que foi marcante e que não possibilita uma maior liberdade de movimento, deve deixar de ser marcante, tornar-se uma informação desprovida de energia e fixação. Registros de afetos vão sendo abrandados. Neste processo de desapego de condicionantes, o sistema operacional, acostumado com a guiança deste caminho conhecido, precisa gerar novas trilhas, baseando-se em novas formas de enxergar a vida. O psicanalista aqui não é o sacerdote que irá doutrinar o paciente. Ele apenas vai ajudando a compreender. A figura aqui é de um guia turístico dentro da própria mente de seu paciente, segurando uma lamparina, falando somente quando necessário em momentos onde aparentemente não há caminho algum. Cada mente é especial, cada alma humana é especial e única, mas o funcionamento do sistema nervoso, das emoções e das “travas” no desenvolvimento psicológico já foi amplamente estudado. Munido deste conhecimento, o psicanalista vai ajudando o paciente abrir portas que nem se sabia que existia, ajudando na expansão mental, desafixando-se os condicionamentos para permitir que novas sinapses se conectem, novas ideias surjam e um novo caminho se abra.

Quanto mais o paciente deixa-se ser afetado e torna-se capaz de receber estes estímulos, mais eficiente, mais vivo está. Essa capacidade de receber estímulos é exponencialmente aumentada a cada sessão com o psicanalista, onde, por meio de trilhas conscientemente guiadas pelo seu psicológico, um processo de autoconhecimento se instaura. Quanto mais você se autoconhece, mais consegue viajar por novas rotas, pois entende como, por quem, porquê e quando é afetado. Mapeadas as suas circunstâncias individuais, novas trilhas são planejadas respeitando a sua própria constituição. E que por meio dessas novas trilhas, possamos alcançar um mundo mais aberto onde os afetos sejam toleráveis e expansivos.

A jornada pela psicanálise é, acima de tudo, uma viagem interior rumo à liberdade e à autenticidade. Ao desvendar e desapegar-se dos condicionamentos afetivos que nos limitam, cada pessoa abre espaço para novas experiências, maior flexibilidade emocional e uma vida mais conectada consigo mesma e com o mundo. Com o apoio da psicanálise, é possível transformar antigos padrões em novas trilhas, onde o afeto flui livremente, enriquecendo nossa existência e promovendo um futuro mais aberto e tolerante.


Uma resposta para “O Afeto na Psicanálise: Como Libertar-se dos Condicionamentos e Expandir Sua Vida”

  1. Avatar de Raphael Bispo

    Não passe em branco, comenta alguma coisa aqui, marque sua presença, mostre que está vivo. =)

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